Análise – ‘Xenoblade Chronicles 2’ é gigantesco, mas demora a empolgar

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Categoria: Games, Nintendo Switch, Review

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Não existe uma forma gentil de dizer isso: Xenoblade Chronicles 2 me decepcionou no começo. Pronto, agora estou aliviado depois de ter defendido o game e até feito uma mini-campanha “para manter o hype” com amigos após os primeiros reviews saírem.

Dito isso, calma. Xenoblade Chronicles 2, da Monolith Software, merece toda a sua atenção. É complicado explicar como eu me decepcionei e, horas depois, me apaixonei por esse RPG japonês maravilhoso. Vamos dizer que o jogo vai te levando em banho-maria, preparando para virar um fogaréu… E, quando pega fogo, conquista qualquer fã do gênero.

O título foi lançado no primeiro dia de dezembro e tinha a missão de fechar um ano brilhante da Nintendo e do seu pequeno notável, o Switch. Bom, 25 dias depois eu estava com umas 20 horas de gameplay. Antes da metade da quest principal e um pouco cansado de tantos tutoriais, diálogos enigmáticos, sidequests pouco interessantes. Sim, eu só queria saber como raios a história poderia avançar.

Fogo amigo e concorrência absurda

Vejamos, por onde eu começo a explicar o que estava errado e como o game me fisgou de volta… Não me entenda errado, o novo Xenoblade é um ótimo jogo, mas meio lento no princípio. Antecipo que minha nota é um simpático 8.0. No entanto, o título não causa um impacto inicial tão grande e tem alguns escorregões que prejudicam sua jogabilidade – especialmente no modo portátil do Switch. No geral, me parece que alguns meses extras no desenvolvimento teriam entregue um produto incrível.

Como disse, a responsabilidade em cima desse título era grande. O “fogo amigo” dos lançamentos para o Switch deixam a comparação de qualidade pouco vantajosa para Xenoblade 2. A razão é simples: The Legend of Zelda Breath of the Wild e Super Mario Odyssey me fazem querer comprar os cartuchinhos de novo de tão mágicos.

Ainda por cima, o game ainda teve o “azar” de ser lançado no mesmo ano que títulos incríveis no seu gênero. De cabeça, lembro de Persona 5, Nier: Automata e Divinity: Original Sin II…

Antes de qualquer coisa: tenho duas dicas importantes. A primeira é a mudança para o áudio em japonês (gratuita, basta baixar o conteúdo no eShop) me fez ter uma empatia melhor pelos personagens. É possível manter as legendas em inglês para entender o que eles estão dizendo. O segundo favor ao seu gameplay é desligar o áudio dos personagens durante o combate. Isso impede que você escute as mesmas três linhas de diálogo gravadas pelos inimigos por vários minutos.

Agora, vou explicar como consegui mergulhar no mundo de Alrest…

Enredo confuso e tutoriais demais

Apesar do nome, Xenoblade Chronicles 2 não te dá muitas pistas sobre sua ligação com seu antecessor, que foi lançado para o Wii. Essa aventura apresenta Rex, um garoto que trabalha como uma espécie de caçador de tesouros e Pyra, uma garota que tem poderes bem especiais e uma história complicada.

Pyra é uma blade – uma criatura mítica que se conecta a um driver (que é, basicamente, a pessoa que controla esses “Pokémon”, risos). Mais do que isso, a moça é “a blade mais poderosa de todas”, chamada de Aegis, o que quer dizer que todos os malvados do mundo estarão atrás dela. Tudo isso e muito mais você fica sabendo nos trailers do jogo, que até revelam um momento bem marcante das primeiras horas:

Fica a minha crítica: chega de tanta revelação em trailers! Vendam o jogo de outra forma!

Para quem tem preguiça, um resumo. Rex vive em um mundo no qual as pessoas moram em cima de Titans, criaturas gigantescas que flutuam num mar de nuvens. Sim, é a maior viagem. Mas, até aí tudo bem, o plano da dupla (que depois vira um trio) Rex-Pyra-Mythra é chegar até um lugar pacífico onde não há mais guerra ou pobreza, Elysium. Lá, eles esperam encontrar o arquiteto, que é quem criou esse mundo.

No meio de tudo isso você vai explorar cenários vastos, cheios de criaturas de todos os tipos e combater alguns drivers e blades poderosos. Com tanta coisa para aprender, você vai ter que se acostumar aos extensos e cansativos tutoriais. Até por volta das 15 horas de jogo eles são comuns. E isso não significa que com umas 45 horas você não dê de cara com eles ainda. A interface do jogo é um pouco complicada e demora para você se acostumar.

O jogo é dividido em 10 capítulos, com os primeiros três ocupando lá suas 20 e tantas horas. Uma característica do roteiro é manter um caráter dúbio nas ações de alguns personagens. Especialmente dos vilões ou rivais de Rex. Isso leva a algumas cenas meio confusas no começo. Mas, tudo melhora quando você começa a entender suas motivações e jornadas antes de Rex e Pyra aparecerem em suas vidas.

A jornada do protagonista Rex ilustra bastante o que eu quero dizer. Nos primeiros capítulos, ele nunca está realmente no controle de nada e vai precisar se apoiar em suas novas amizades para encontrar seu ponto de virada. Já Pyra é poderosa e simpática, apesar de ser explorada com mais fan-service do que eu acharia necessário.

Os acompanhantes de Rex nessa aventura seguem seus próprios dilemas e segredos. Com o tempo, você aprende a curtir personagens como Nia, Tora e Mòrag. Os vilões Jin e Malos também são dois personagens que você aprende a gostar – por mais que eles sejam os responsáveis por algumas surras que você vai levar.

Nas primeiras horas do game, as motivações de boa parte desses amigos e inimigos parecem simplesmente não existir. As personagens se conhecem, ficam amigas e resolvem participar da aventura. Afinal, o que mais poderia ser feito em uma tarde ensolarada como essa?

Ainda bem que tudo melhora e MUITO depois do capítulo 4.

O combate é uma bagunça boa

O sistema de combate de Xenoblade envolve ataques automáticos e golpes especiais – as artes. O jogador controla a movimentação do personagem, que golpeia o inimigo enquanto aguarda que essas artes sejam carregadas. Cada um desses golpes especiais é anunciado pelo nome – bem ao estilo adorado pelos fãs de alguns RPGs e animes.

Uma das novidades desse game é que mecânica de combate incluiu as blades na hora da briga. Ou seja, em uma party de 3 drivers, a briga vai envolver também as 3 blades. Ou seja, são, pelo menos, 8 personagens se movendo na mesma tela (3 drivers + 3 blades + 1 driver inimigo e sua blade). E o combate pode ficar ainda mais doido, porque as mecânicas de combos incluem diversas opções.

A jogabilidade na tela do Switch não fica lá muito organizada, é um verdadeiro Deus nos acuda. Mesmo assim, passei algumas boas horas nessas “brigas de bar versão anime”. Em corredores de um nave ou mesmo em campo aberto, isso é uma verdadeira bagunça. Dê uma olhada na captura de tela acima e tente entender alguma coisa.

Mas, surpreendentemente, funciona. Com o tempo, você percebe que a graça do combate é poder combinar seus ataques especiais com os de seus colegas de time. Isso gera combos bem poderosos e satisfatórios. Conforme seu avanço no game, são encontradas novas e poderosa blades que mudam a forma como você pode jogar.

Por outro lado, uma crítica comum é que se o seu nível for muito superior, basta largar o controle e ir tomar um café. Quando você voltar, há uma grande probabilidade de seu time ter vencido as batalhas por conta dos ataques automáticos.

Há um sistema de relacionamento entre driver e blade, que permite melhorar seu desempenho nas lutas. Também é possível customizar equipamentos e armas, além de despertar as novas blades que eu já comentei. Dá para ficar perdido com alguma facilidade nos menus, mas com o tempo essa sensação melhora.

Cenários gigantescos, lindos e vazios

Durante sua jornada, você vai conhecer mundos diferentes com cenários imensos. Cada uma dessas criaturas gigantescas pode se dividir em cidades e ambientes diferentes, o que vai fazer com que seja comum você ter objetivos apontados que estejam a vários passos de distância.

Por falar em distâncias, o sistema de navegação é terrível. Você nunca consegue ver o mapa completo na sua tela. Recentemente, uma atualização melhorou um pouco isso, mas o trabalho poderia ser melhor. Ao contrário de Xenoblade Chronicles X, em Xenoblade 2, você já tem o mapa todo aberto e disponível para exploração desde o começo.

Para facilitar ainda mais a vida do jogador, há uma sinalização de objetivo (que pode ser desligada) que mostra onde você precisa ir para continuar a história principal ou paralelas. Como os Titans são criaturas gigantescas, há vários níveis, o que faz com que você também precise subir e descer (sem elevador) com frequência os bichões.

A ideia de Xenoblade 2 é privilegiar o enredo, enquanto você explora o vasto mundo criado para o jogo. Com uma tonelada de conteúdo, é importante ter também um bom motivo para se deixar levar. E, infelizmente, senti que há pouca recompensa em fazer esse mergulho. Normalmente o seu único motivo para ajudar alguém é a paciência extrema do protagonista.

O design dos personagens segue uma linha de traço anime e a narrativa acompanha essa leveza com alívios cômicos. Mas traz também uma forte mensagem contra o fanatismo. Alguns dos personagens secundários garantem cenas bem divertidas e o game expande seu relacionamento com a party em alguns momentos especiais, que se tornam marcantes e enriquecem o enredo.

Vale a pena?

Por mais injusta que seja, é inevitável a comparação de Xenoblade Chronicles 2 com The Legend of Zelda Breath of the Wild. Enquanto Zelda privilegia a liberdade e a exploração, em Xenoblade 2 é comum a sensação de que você esta apenas correndo ou se transportando de um ponto de interesse a outro. No entanto, a história e a mecânica instigante de combate redimem o game completamente.

A trilha sonora é daquelas que deixam memórias para sempre nos gamers e os cenários são lindos – especialmente, se você fizer essa jornada na TV. Sério, você precisa escutar essa trilha, de um dos Titans (continentes) que se chama Mor Ardain.

Como disse, o pecado de Xenoblade Chronicles 2 é demorar para provar que um ótimo jogo. Sua mecânica principal, a de batalha, funciona bem e é satisfatória para os jogadores. Os personagens são marcantes se você der uma chance a eles, principalmente no caso da história principal.

Confesso que depois de terminar o jogo, pretendo dar mais atenção para as sidequests (as que me pareceram interessantes) e explorar Alrest. A quantidade de lugares secretos e monstros com níveis absurdos garante que o desafio só começa com o fim da história principal. Essa experiência deve ser melhorada, já que a desenvolvedora prometeu novas funções no New Game+. Acho que eles perceberam que é nesse ponto que o game já te fisgou completamente.

Mas, no fim das contas, vale a pena investir seu tempo em Xenoblade Chronicles 2? Sem dúvidas. Mais ainda se você é fã do gênero e das obras da Monolith Software. Volto a dizer, com mais seis meses de polimento, esse jogo certamente teria uma nota ainda maior. No entanto, se você é um novo no estilo ou mesmo no Switch, tenha certeza de que você terá “20 horas de paciência” para esperar o game engrenar.

Nota: 8.0

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