Análise | Alan Wake Remaster traz o terror de volta na nova geração com maestria

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Categoria: Artigos, Games, Review

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Alan Wake Remaster traz de volta a aventura do escritor para a geração atual de consoles, mas será que vale a pena voltar a Bright Falls? Confira nosso review completo.

Capítulo 1: Bem-vindo a Bright Falls

Bright Falls pode ser considerado um reduto de tranquilidade que ainda preserva os valores mais tradicionais dos Estados Unidos. Em meios às colinas que guardam um dos mais impressionantes pôr do sol e uma comunidade de pessoas que gostam de receber o leite na porta de casa, o local tem uma rotina simples e invejada pelos grandes centros urbanos da América do Norte.

Quando o dia amanhece, os afazeres dos moradores não sofrem muitas alterações: a delegacia de polícia recebe ligações dos residentes sobre os postes de luz e de animais silvestres que entraram em suas casas. A taxa de criminalidade é sempre baixa e se resume a algumas pessoas alcoolizadas e brigas de ruas que são resolvidas com a intervenção da guarda local, mas nada que comprometa a proposta de paz e tranquilidade que Bright Falls vende para seus futuros moradores. A economia gira em torno do comércio que investe na divulgação da cultura do lugar, da prestação de serviços além do turismo que acontece através do aluguel de pousadas próximo aos pontos de beleza natural como o rio principal da cidade que proporcional a incrível visão do famosos pôr do sol. Sendo acessada pela balsa marítima e tendo muita hospitalidade dos moradores, Bright Falls aparece no mapa de cidades interioranas como uma ótima opção para aqueles que desejam um tempo distante da modernidade e da vida cheia de compromissos encontrando no lugar uma oportunidade de reconexão com a natureza e consigo mesmo.

Entretanto, por trás das montanhas que acolhe a luz solar de todos os dias, a pequena cidade parece esconder em meio à escuridão um espectro de mistério e de forças ocultas que nem os moradores conseguem explicar. Bright Falls se esconde nas sombras e há relatos de que certas ações malignas e criminais acontecem durante o período da noite por algumas pessoas consideradas possuídas. A simplicidade do lugar, bem como os medos das pessoas, faz com que tais casos sejam ocultados e ignorados até mesmo pela polícia que prefere fazer vista grossa para estes acontecimentos.

A garçonete Rose do café local da cidade chega cedo ao trabalho para atender os clientes que são, em sua maioria, velhos motoqueiros roqueiros que acreditam que estão com a bola toda e curtem os grandes clássicos do rock regional. Rose é uma mulher jovem e cheia de sonhos que não conhece uma vida sofisticada para além das fronteiras de Bright Falls e resume sua vida ao trabalho e a pequenos momentos de lazer como assistir os seriados de comédia e ler os livros de aventura policial e romances sobrenaturais de seus autores preferidos. Entre as diversas obras que lê, suas preferidas são a do renomado autor Alan Wake considerado um dos maiores best-seller do país que encontra nos fenômenos sobrenaturais e na natureza humana a inspiração para contar histórias de terror e tensão que fazem sucesso nos cinquenta estados americanos. Rose se considera a maior fã do senhor Wake já que possui todos os seus livros lançados e ajuda na divulgação das obras colocando um pôster em tamanho real na entrada do estabelecimento onde trabalha. Os livros de Alan Wake não só conquistaram um público altamente urbano como também a população do interior que vê em suas obras uma porta de acesso para um mundo muito maior do que aquele que conhecem.

Desde seu último lançamento, que foi considerado um grande êxito de crítica e de vendas há dois anos atrás, Alan Wake se consagrou na mídia e no meio literário como um dos escritores mais influentes de sua geração. Casado Com Alice, uma artista e fotógrafa competente, e morando no centro de Nova York, todos imaginam que o senhor Wake tem a vida que muitos americanos só poderiam sonhar: sucesso, dinheiro e fama convergindo para uma vida perfeita e de extrema felicidade.

-Quando vi Alice montando a campanha visual que seria parte da minha futura obra, percebi que minha carreira não estava indo bem, como já suspeitava há algum tempo. Ao fazer a última campanha para o lançamento de Return to Sender sentia um vazio dentro de mim, da minha mente e uma sensação de que as palavras me fugiam. Barry já estava me cobrando uma nova obra e eu estava tentando ganhar tempo, pois sabia que não tinha nenhuma ideia boa o suficiente que pudesse ser um novo livro. Não sabia o que estava acontecendo. Havia um fantasma dentro de mim, um freio, uma pausa, um bloqueio que não sabia se era meu fim como escritor. Estou cansado de perder noites de sono pensando se escrevi o último livro e não terei mais como continuar na carreira. O que está acontecendo? Estaria eu chegando um ponto de senilidade que impedia minha criatividade ou já tinha cumprido minha jornada em me expressar junto às pessoas e a vida estava pedindo um outro rumo?

Alice me ajudou em todos os momentos sempre me apoiando e me encorajando a seguir a carreira desde quando a falta de inspiração se tornou uma sombra em minha vida. Já fazia dois anos que não conseguia escrever uma só palavra ou um parágrafo que servisse de fagulha para uma história cativante. Rascunhei diversos “plots” para um possível livro, mas nada que fosse impactante o suficiente. Não sabia mais que desculpa inventar para Barry, meu agente, para evitar dizer que não conseguia mais escrever. Para ele, o que importava eram os dólares que o livro geraria além de um próximo contrato com a editora. Barry via tudo com um olhar comercial e se preocupava comigo e com minha carreira à sua própria maneira, mesmo quando punha o dinheiro e o lucro na frente de tudo.

Quando finalmente tive coragem para contar a Barry que um outro livro não sairia tão cedo, tive a impressão que ele pode ler a minha mente e de manhã me ligou com um tom de voz animado. Me disse que tinha tido uma ótima ideia para que eu me inspirasse novamente e sugeriu que tirasse um tempo de férias longe de toda a confusão e estresse de Nova York. Ele tinha até escolhido o lugar para que eu e Alice passássemos um tempo juntos. Chamava-se Bright Falls, uma espécie de condado do interior com vida simples e confortável que, segundo Barry, iria carregar minhas baterias e me inspirar para um novo romance dado os aspectos misteriosos que rondavam o lugar.

Em alguns dias partimos para Bright Falls. Pretendia esquecer um pouco do trabalho e aproveitar um tempo para mim e Alice em uma pousada. Tudo pago pela editora. Barry e Alice estavam mais empolgados do que eu. Não acreditava que uns dias em um lugar isolado me abriria a mente para outras ideias, mas era a única possibilidade que tinha no momento. Quando entramos com o carro na balsa, não pude deixar de notar a beleza da cidade. Parecia que os moradores tinham construído um local para eles próprios em meio das colinas quase como se quisessem estar perto de um lindo cenário todos os dias. As casas e o comércio eram rodeados de árvores e todo tipo de beleza natural além do rio que, além de abastecer a cidade, compunha o cartão postal que atraía alguns turistas como eu acostumados ao cinza poluído dos centros urbanos.

Enquanto esperávamos a balsa atravessar o rio principal, Alice me sugeriu que saíssemos do carro para vermos a paisagem e tirarmos algumas fotos. Gostava da atitude dela de querer me apoiar nesse meu momento de bloqueio criativo, mas a verdade é que não estava na mesma sintonia. Prova disso foi quando encontrei dentro da balsa um morador de Bright Falls que disse que me reconhecia e adorava minhas obras. Se viajar para esta cidade tinha o intuito de fazer com que eu esquecesse um pouco do meu trabalho, não estava dando muito certo. Com todo o peso emocional que carregava comigo, a última coisa que queria era admiradores do meu trabalho me dizendo como minhas obras os divertiam ou mudavam suas vidas bem no momento em que eu mesmo estava duvidando das minas capacidades e criatividade. Seria eu um escritor medíocre e iludido todo esse tempo?

Quando chegamos finalmente em Bright Falls, dirigimos até o café local para pegar as chaves da pousada com o proprietário. Desci do carro sozinho e quando entrei fui atendido por Rose uma garçonete empolgada que tinha lido todos os meus livros e se considerava minha fã número um. Não dei muita atenção para ela porque estava cansado e queria chegar logo à pousada. Não quero parecer rude ou mal agradecido com meu público, mas o momento pedia paz e eu não queria mais ser incomodado em um período tão difícil como aqueles que estava passando.

Rose me informou que o proprietário, o senhor Tuck, me aguardava na sala dos fundos, um local escuro devido a uma lâmpada quebrada. Uma senhora que estava parada no início do corredor me disse que eu poderia me ferir se continuasse a andar naquela escuridão, mas confesso que não entendi o que ela quis dizer com aquilo. De fato, o lugar tinha pouca visibilidade e quando cheguei frente à porta para falar com Tuck, percebi que não havia ninguém lá. Teria perdido toda a viagem e a minha tentativa de me livrar de meus demônios internos? Por sorte…ou azar…uma senhora vestida de preto como se estivesse pronta para ir a um velório se aproximou me dando um pequeno susto. Disse que o senhor Tuck tinha deixado as chaves com ela e que deveria ser entregue a Alan Wake que passaria uns dias na cidade. A mulher misteriosa foi rápida e objetiva ao falar comigo e, por um minuto, fiquei feliz por ela não ser mais uma fã do meu trabalho pedindo um autógrafo.

Mas a situação que de início pareceu confortável mostrou sua cara maligna quando chegamos à pousada. A estadia parecia confortável apesar de rústica. Porém, o que deveria ser um investimento de tempo, lazer e recomposição pessoal acabou por se tornar um dos meus maiores pesadelos quando, em uma queda da energia elétrica, Alice é capturada e mensagens de meu suposto novo livro aparecem por toda Bright Falls. Essa suposta nova obra estava sendo vista como um artefato de alta lucratividade que estava sendo procurado por pessoas mal intencionadas que queriam fazer dinheiro em cima do meu nome e da minha escrita. Mal sabia eu que esse tempo em Bright Falls me custaria mais do que minha carreira…

Capítulo 2: Terror remasterizado

Alan Wake é um jogo de terror psicológico que inclui elementos de ação lançado em 2010 pela Remedy games sendo um jogo exclusivo para Xbox 360 alcançando grande sucesso entre os consumidores da Microsoft. Considerando-se o momento em que o game chegou às lojas, o título merece destaque por conseguir trazer uma experiência de suspense e terror que ainda eram raras na época.  Silent Hill e Resident Evil se apresentavam como as grandes referências do público na hora de passar desconforto em um jogo de vídeo game, mas a chegada de Alan Wake estabeleceu um novo caminho para o gênero apresentando estruturas e mecânicas que seriam fortemente utilizadas em outros jogos que viriam nas próximas gerações.

Neste sentido, é válido destacar que em 2010, a sétima geração de consoles encontrava-se no ápice da tecnologia e do aproveitamento das engines para produzir o melhor do conceito de jogos eletrônicos. A Remedy conseguiu traduzir todas as expectativas que os jogadores esperavam em um momento de ressignificação dos jogos que seriam consolidadas com o Xbox One e o PS4. A partir de 2013, Microsoft e Sony são vistas como marcas de vídeo games com real potencial para ter exclusivos de peso que seriam fortes o bastante para moldar a indústria em termos de qualidade.

O terror e o suspense de Alan Wake podem ser considerados uma fórmula universal para causar pânico reunindo o melhor da tensão, da ação e até um pouco do survival horror. Isso porque a produtora aproveita elementos da mecânica para ajustar a dificuldade e fazer com o jogador se encontre em situações de risco constantemente tendo que pensar estratégias para se livrar de inimigos. Todos os elementos de jogo convergem para o storytelling e o enfretamento de inimigos que compõem toda a campanha do game de forma interessante e marcante, fato esse que fez com o jogo fosse sempre lembrado pela comunidade e recebesse uma versão remaster.

Alan Wake volta em 202, porém com uma remasterização de qualidade que dá uma nova vida ao jogo. O pacote traz todo o conteúdo lançado e preserva o game em seu formato original sem novas adições de fases ou itens exclusivos. A publicação ficou a cargo da Epic Games e, dado a força de marketing da empresa bem como o lançamento multiplataforma, é esperado que a estratégia de venda principal seja reviver um jogo importante ao mesmo tempo que um novo público pode conhecer a aventura em uma nova qualidade visual.

O jogo que recebe o nome de seu personagem principal tem por objetivo inserir o jogador em uma história de mistérios que envolve desde os dramas pessoais do autor Alan Wake até a ganância e má conduta dos moradores de Bright Falls. Todo o enredo é envolto de situações sobrenaturais envolvendo os “possuídos”, seres que foram tomados pela escuridão e vagam durante a noite perpetuando o caos. Por conta dessa temática, os ambientes do jogo possuem uma arquitetura que explora os ambientes naturais e reforça o contraste entre dia e noite sendo que cada período é usado para resolver determinados pontos da jornada.

Os jogadores poderão esperar matas fechadas, pontos turísticos que ficam macabros à noite, estradas vazias e outras localidades típicas de uma cidade pequena que parece ter sido construída para ser o perfeito cenário de um filme de terror. Por se tratar de uma versão remaster, é neste quesito que Alan Wake revela o melhor de seu trabalho apresentando cenários com melhor definição e alguns pontos remodelados com a disponibilidade de recursos mais avançados da geração atual. Como exemplo, durante a perseguição que Alan sofre dos possuídos enquanto foge de carro, muitas das partes do cenário que compõem a pousada onde o personagem está foram refeitos com a inserção de novos elementos como cercas e moitas assim como uma melhor redefinição gráfica que permite uma iluminação mais realista e globalizada. O visual dos personagens também recebeu atualização e, na versão remasterizada, rostos e roupas ganham mais detalhes melhorando tons de pele, rugas, reflexos e expressão faciais que deixam o visual mais interessante após onze anos, mas que ainda assim revelam uma arte e um programação já ultrapassada típicas de um game de sétima geração.

No entanto, os espaços abertos brilham com o novo tratamento e consegue mostrar detalhes que vão desde as parede de uma casa até a forma como o sol reflete a luz em meio a diferentes pontos.  Em comparação com a versão original, a versão remaster tem cores mais vívidas e condizentes com a realidade em oposição aos tons opacos de antes por falta de recursos mais apurados.

Como forma de destacar todo o potencial dessa nova versão, a produtora garante qualidade técnica e todas as plataformas, mas dá especial atenção ao PS5 e Xbox Series S/X por serem vídeo game de maior potência. Nas novas plataformas, o game atinge 1440 linhas de resolução rodando a 60 FPS com qualidade de imagem 4K com exceção do series S que roda a 1080 com a mesma taxa de quadros e alta definição. No PS4 e no Xbox One, a resolução é de 900p e os tradicionais 30 quadros por segundo em Full HD, mas ainda com perceptível mudança no visual.

A repaginação visual é interessante e de boa qualidade, mas será percebida mais pelos olhares atentos de jogadores habituados a reparar em pixels e visual gráfico. A proposta da remasterização tem por objetivo principal recontar o thriller psicológico que agradou jogadores de vários países em novas cores e formas para agradar aqueles que desejam iniciar sua história em Bright Falls.

Capítulo 3: Uma arma para se defender

Além de visuais bonitos e bem renderizados, Alan Wake tem outros destaques que o consagram com um jogo de ótima qualidade e ainda significativo mesmo depois de uma década de lançamento do original. De imediato, é importante destacar a mecânica pensada para o game que envolve uma jogabilidade exigente, a linearidade como forma de destacar a história, a ação feita através da mecânica de tiros e a presença de colecionáveis. Tendo por comparação os games da atual geração bem como os da geração anterior, é possível apontar que Alan Wake estreou uma fórmula importante que foi a base de muitos outros títulos que exploraram enredos também ricos. Colecionar itens pelas fases e seguir caminho pré definidos para evolução da história pode ser uma mecânica comum em jogos atuais, mas se mostravam como uma inovação onze anos atrás abrindo oportunidades de ideias para várias produtoras. O game é pensado para fazer com que o jogador acompanhe a história de Wake até o final quase como um híbrido entre filme e jogo (que mais tarde seria a inspiração de Quantum Break, outro título que foi exclusivo da Microsoft) fazendo com que a experiência final seja marcante tanto pelo enredo quanto pelas ações feitas ao longo da campanha.

A principal arte de Alan Wake no que diz respeito ao aproveitamento do jogo são os comandos alinhados à proposta de thriller psicológico que muita lembram O Iluminado, cujo autor faz referência no início da história. Isso porque a trajetória de Wake é sombria e desconhecida para o próprio personagem que vai descobrindo os eventos à medida que encontra as páginas de seu novo livro por toda Bright Falls. O período da noite é onde os inimigos possuídos ganham vida e vão perturbar o autor com ataques violentos sendo necessário investir nas esquivas e no correto uso de munição para poder se salvar.

Vale destacar que é neste quesito que Alan Wake mostra todo seu grau de dificuldade com um pouco do survival horror embutido visto que armamento e munição são escassos assim como as pilhas que alimentam a lanterna. Os jogadores deverão administrar com cuidado todo o arsenal para não ficarem expostos demais e tentando uma fuga quase impossível contra os possuídos. É na jogabilidade que será possível perceber as nuances do jogo bem como o desconforto que ele pode gerar uma vez que o progresso da história é linear e durante todo o game será preciso andar de um ponto a outro enfrentando inimigos mais fortes.

A dinâmica de combate consiste em afastar a escuridão dos possuídos para que fiquem vulneráveis e estejam suscetíveis aos tiros. Cada área alcançada é composta por um número de inimigos que variam de força e compõem uma horda que deve ser detida para o avanço da fase. Neste sentido, Alan Wake Remaster consegue ser competente ao resgatar o famoso esquema do perigo muito semelhante aos de ondas de zumbi em jogos desse gênero. Isso significa dizer que um inimigo possuído já é trabalhoso o suficiente dada a vida e stamina do protagonista que não são altas. Um grupo de possuídos aumenta o perigo exponencialmente e acaba por cercar o escritor de forma incisiva não deixando espaço para defesa ou ataque resultando em mortes sequenciais. A cada neblina que anuncia a presença de mais inimigos, será necessário ter atenção e desenvoltura para passar pelos desafios e chegar vivo ao próximo checkpoint. O terror de Alan Wake está aí, justamente nos momentos em que a briga pela sobrevivência ganha forma e cor em meio a noites assustadoras de uma cidade no meio do nada. Ver o sol nascer e espantar todos os possuídos será um alívio depois de muito enfretamento com seres tomados pela escuridão.

Os quesitos técnicos impressionam por se tratar de um jogo com mais de dez anos de lançamento e revela uma produção da Remedy de muita qualidade em nome de um jogo de terror psicológico que aproveita todos os recursos que a tecnologia podia oferecer no momento de lançamento. O título guarda muitas semelhanças com uma boa série ou filme de suspense em que acompanhar os dramas dos personagens se torna uma tarefa interessante fazendo com que o jogador/expectador queira saber o desfecho de uma narrativa envolta pelos perigos do sobrenatural.

Além de uma proposta de remasterização, que atribui mais beleza visual, a trilha sonora também é um aspecto de fundamental importância para construir um clima de tensão e desconforto. Toda a parte auditiva do game pode ser considerado uma experiência completa, pois compreende desde a dublagem dos personagens em situações diversas até músicas temas que são tocadas ao final dos capítulos e possuem letras que falam sobre as vivências de Alan Wake como a solidão, a falta de objetivos e a inspiração da vida. No entanto, é durante o gameplay que o aspecto sonoro ganha mais força e destaque. Muito alinhado ao visual, a proposta sonora que ocorre durante as fases gera arrepios nos jogadores e muita tensão por fazer com que a espera de novos inimigos seja sempre uma constante. O jogo não usa dos famosos jump-scares, mas de um medo sempre presente que põe o corpo e as mãos de que jogam sempre em estado de alerta contra mais uma possível morte e, neste sentido, o game da Remedy brilha como poucos e deveria ser garimpado para servir de inspiração para novos títulos. Tambores agressivos e violinos “arranhados” serão o pior som que será ouvido, pois eles anunciam a chegada do perigo e da luta pela vida. Mesmo enfrentando uma fase diversas vezes, e sabendo o que vai acontecer, a tensão e o medo não cessam se renovando a cada nova partida fazendo com que a pressão sanguínea aumente um pouco mesmo para jogadores mais experientes.

Epílogo: Nascer de um novo dia

Apesar de ser um jogo que envolve uma dinâmica de tiros, a essência de Alan Wake Remaster não é a ação, mas a trajetória e o mistério que envolve o personagem. Durante a campanha, algumas variações de armas, de lanterna e munição será disponibilizada pelo jogo, porém muito distante da realidade de um jogo de tiro convencional que conta com inúmeros modelos e customizações. O conceito é principal é a sobrevivência, portanto espere poucos recursos e muita repetição de determinadas partes para vencer os capítulos. Apesar de contar com um enredo interessante e mecânicas bem equilibradas, Alan Wake Remaster ainda sofre com o excesso de fases parecidas cujo objetivo é andar em rotas definidas, enfrentar inimigos e assistir o desenrolar da história para acompanhar o desfecho de Alan e Alice. Essa dinâmica trazida pelo jogo mostra uma parte pouco madura do game e revela uma produção que ainda estava se encontrado para atingir os objetivos de um jogo eletrônico. Esse suposto hibridismo entre filme e jogo ainda é uma proposta difícil de ser aceita, pois fere de alguma forma a essência mais básica do vídeo game que a participação ativa nos acontecimentos e um domínio sobre os personagens. Alan Wake oferece parte dessa experiência com muitos recursos narrativos como os colecionáveis, o programa de TV Night Falls e as transmissões de rádio, que revelam muito sobre os acontecimentos passados e recentes e faz com que o jogador se sinta parte do drama do protagonista. Entretanto, todas essas informações não são traduzidas em forma de jogabilidade e possibilidades dentro das ações do jogo limitando o quanto cada um pode investir e aproveitar no game.

Alan Wake Remaster pode ser um considerado um divisor de águas na indústria de jogos eletrônicos principalmente no gênero terror por ter tido a ousadia de entregar uma experiência nova em um momento em que os games necessitavam de inspiração para serem mais relevantes. A proposta de alinhar a campanha a um forte caráter narrativo é uma característica que vale a pena a compra do jogo, mas que pode deixar um pouco a desejar caso o objetivo seja aproveitar o jogo de forma mais ampla e por maior tempo possível. Alan Wake Remaster é um competente thriller repaginado visualmente que brilha aos olhos, mas, assim como seu protagonista, ainda precisa encontrar um caminho de inspiração e novidade para conseguir dar seu próximo passo rumo a um sucesso completo.

Vale a pena?

Alan Wake Remaster é uma ótima opção para que não conhece o jogo e também para fãs de longa data. A remasterização é bastante competente e um ótima oportunidade para revisitar o título da Remedy.

Os fãs de jogo de suspense e terror poderão fazer um ótimo investimento se o objetivo for comprar um jogo que ofereça consistência e qualidade na proposta de assustar desde que o fator replay não seja o mais esperado visto de que se trata de um jogo fortemente pautado na narrativa.

Nota 8,0

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